Há 100 anos, Dom Antônio do Santos Cabral, o “Dom Cabral”, então arcebispo de Belo Horizonte, proibiu os Reinados nas igrejas católicas da Diocese da capital mineira. Os Reinados são festas de negros e negras marcadas pela religiosidade e pela devoção à Nossa Senhora do Rosário. Os congados ou congadas são exemplos de manifestações que resistem até hoje na capital e interior mineiro.
Na quinta-feira (10/08), o ato de 1923, formalizado como “Aviso de Número 5”, foi revogado por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de BH, depois de uma intensa mobilização que chegou ao Papa Francisco, no Vaticano.

A reparação histórica foi marcada por um encontro no Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu), sediado no bairro Santo Antônio, em BH, mais especificamente na comunidade Vila Estrela. “Meu sentimento é de vitória nessa pequena etapa de uma longa caminhada. Foram 100 anos de exclusão e de humilhação desse povo preto, que foi colocado para fora das igrejas católicas. Então, esse documento é motivo de grande festa, mas é apenas um começo das reparações que vamos exigir, e das que são possíveis”, afirma Padre Mauro Luiz, curador do Muquifu, e idealizador do “Negricidade”, projeto que se propõe a resgatar os territórios negros de Belo Horizonte, que foram apagados com a inauguração da capital.
O evento teve a presença do bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, Nivaldo Ferreira, que afirmou que a decisão publicada há 100 anos trouxe consequências graves para o povo preto. Emocionada, Isabel Casimira, rainha Conga das Guardas de Moçambique e Congo Treze de Maio, disse que a reparação “foi a primeira de muitas batalhas”.