Há, de forma geral, certa descrença na transformação positiva, seja nas pessoas, na política ou mesmo no cotidiano de uma grande cidade. Contudo, é possível. O que valida essa afirmação tem nome e endereço: Viaduto das Artes, na avenida Olinto Meireles, 45, no Barreiro. Com a força e resiliência do artista plástico Leandro Gabriel, o projeto se consolida como uma experiência que deixou o universo da utopia e se transformou em realidade.
O embrião começou a se desenvolver em 2006. Hoje, ele recebe programação intensa de ações que, inclusive, extrapolam a arte. A iniciativa alcança grande número de pessoas, que mantêm o lugar vivo, potente e inspirador. Conversamos com o artista Leandro Gabriel, que revelou que um segundo projeto semelhante está para sair do papel na região metropolitana de BH, contudo, ainda sem poder revelar o lugar.
Ao Lado Beagá, Leandro contou sobre os projetos ativos para 2024, as dificuldades no início da jornada e explicou como o Viaduto das Artes se mantém. Confira!
Você chegou no local em 2006, correto? Mas só teve a licença 10 anos depois…
Isso mesmo, em 2006 começamos a concretizar um sonho de revitalização do Viaduto Engenheiro Andrade Pinto. Tivemos uma longa espera para aprovação de uma lei que permitisse a ocupação dos baixios de viadutos. Foi sancionada em 28 de março de 2012 a Lei 10443/12 que instituiu a Política Municipal de Aproveitamento das Áreas sob Viadutos, que busca promover uso das áreas sob os viadutos municipais sem função viária. Daí, começamos uma reforma externa (recolhimento de águas pluviais, passeios do entorno, passagem elevada de pedestres, e interna. Paredes, banheiros, salas, biblioteca foram construídas para atender o público.
Naquela época, lembro-me que muitas pessoas desconfiavam que o projeto seguiria adiante, afinal, era em um baixio de viaduto e em uma região, até então, de grande vulnerabilidade social. Como é para você vivenciar hoje tudo o que foi e está sendo construído no lugar?
Acredito que naquela época era muito difícil de se entender que a mudança fosse possível, ou seja, de uma área degradada de um baixio de viaduto ao uso cultural. Não estávamos falando em recuperação de vias ou de instalação de equipamentos públicos (como jardins ou aparelhos de ginásticas). Estávamos pensando em um lugar onde pudesse vivenciar arte, música, dança, teatro. Isso era impensável naquele momento, e numa região de periferia, com grande vulnerabilidade social. Quando você me pergunta o que é vivenciar isso hoje, penso como a arte é transformadora, e que é possível mudar a realidade de um local, de um bairro, da cidade através dela e da educação.

Como o projeto se mantém?
Hoje o Viaduto das Artes, busca recursos através de leis de incentivo, na esfera federal, estadual e municipal, editais, chamamentos públicos. Criamos projetos de incentivo à Cultura, Educação, Esporte e Assistência Social e submetemos a estes editais. Parcerias e apoios de empresas também são firmados.
De alguma forma, o projeto impactou o seu processo criativo como artista?
Hoje o Viaduto me toma muito tempo, pois são muitos projetos e ações que desenvolvemos, praticamente 80% do meu tempo dedico a Instituição. Com isso comecei a ver meu trabalho mais de longe, sem muita vivência de ateliê, passei a refletir mais sobre processo criativo, o Viaduto possibilita a convivência diária com artistas de múltiplas linguagens e regiões diferentes, olhares e discursos diferentes, isso amplia minha visão sobre a arte e como devemos pensar a arte e o processo de criação, está sendo um momento de muito aprendizado.
O que mais te emocionou ou arrepiou durante essa jornada do Viaduto das Artes?
Acho que tudo me emociona, desde uma pessoa passando e dizendo sobre a mudança do espaço, vendo a comunidade integrada ao espaço, propondo atividades e ver as pessoas pensando que é possível mudar a realidade de onde moram, por ver o viaduto transformado.
Você percebe de forma clara como o projeto mudou a realidade da região?
Como estou no dia a dia da instituição, acabo não percebendo tanto, não sei precisar o quanto mudamos a realidade da região, mas temos diversos comentários falando como o Viaduto mudou a realidade do Barreiro, falando que agora podem ver arte. Acreditam que é possível mudar uma realidade através de um sonho. Sei que estamos longe do que queremos para nossa região, mas estamos trabalhando para que cada dia posamos mudar um pouquinho mais o nosso território.
Projetos ativos no Viaduto das Artes em 2024:
Projeto Escultórias – (Escultura + História): o projeto visa explorar o universo da Arte, Memória e Ecologia, por meio de ações que estimulem o desenvolvimento sustentável, tendo como base a valorização da cultura. As atividades giram em torno de uma exposição itinerante de esculturas em sucata de ferro, com a utilização de “lixo” reutilizável como matéria prima para a produção artística.
Bolsa Pampulha – O Bolsa Pampulha é um programa de estímulo à produção em Artes Contemporânea que existe desde 2003, constituindo-se como importante política pública municipal, de alcance nacional, para o fomento da produção artística contemporânea. Figurando entre as primeiras residências artísticas do Brasil, o programa desenvolveu-se a partir do Salão Nacional de Arte da Prefeitura de Belo Horizonte, que iniciou nos anos 1930 e teve seu modelo revisto em 2003, transformando-se no programa de residências para artistas visuais. Ao longo do tempo, o Bolsa Pampulha teve seus formatos e metodologias recorrentemente transformados para responder às emergentes demandas da sociedade e da coletividade artística.
Plano de exposições da Galeria do Viaduto das Artes – O projeto pretende viabilizar a programação de Artes Visuais do Viaduto das Artes, possibilitando a realização de exposições. Busca-se contribuir para a democratização do acesso aos bens e serviços culturais do município, disponibilizando ao público obras e acervos de qualidade artística reconhecida. Além disso, objetiva-se o reconhecimento e a valorização dos profissionais, da produção artística e dos processos de formação.
Viaduto Café – o projeto tem o objetivo de formar e capacitar 120 baristas (comunidade e egressos do sistema prisional) na prática e na teoria, habilitando os participantes na elaboração de bebidas e drinks de café, na operação de máquinas de café, na elaboração de espresso, na postura no atendimento, no método de café filtrado e na higiene e limpeza do local de trabalho. Tendo como foco a formação de agentes da comunidade e da reinserção dos egressos do sistema prisional ao convívio social por meio do trabalho, como forma de resguardar a dignidade de cada um, fato relevante para a diminuição da reincidência.
Costura e arte – o projeto visa a capacitação em moda para mulheres em processo de envelhecimento ou da 3ª idade, com ênfase no desenvolvimento de atividades fins relacionados ao setor e no empreendedorismo, estimulando-as por meio da participação de ações de incubação, aceleração de ideias e planos de negócios.
Viaduto Beach Tennis – Promover o desenvolvimento integral, a inclusão social, a cidadania e a qualidade de vida de crianças, adolescentes utilizando do esporte como ferramenta pedagógica, lúdica e interdisciplinar, que estimule o aprendizado, a cooperação, a autoestima e o respeito.
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