Crônicas da Urbe: Sobre pardais e refúgios climáticos

Olha, nem os pardais agradam todo mundo, viu? É só pesquisar a história dessas aves nas primeiras décadas da capital mineira. Seriam eles coautores no extermínio dos frondosos fícus que marcaram a avenida Afonso Pena, na primeira metade do século passado? Sim, há essa acusação. Como eram em grande número e sabiam se virar muito bem, acabavam afugentando outros pássaros, que poderiam ser, de fato, predadores das pragas destruidoras de fícus. 

Gostam de lixo? Desde as primeiras décadas da cidade, diziam que eles adoravam fuxicar o lixo para beliscar restos de comida. Vejam só. Oportunistas, se aproveitavam de uma cidade que ainda aprendia a lidar com a limpeza urbana. Seriam eles os ratos do ar e não os pombos? 

Eram ainda tão mal quistos que jovens de outrora “brincavam” de caçá-los e celebravam muito quando acertavam o alvo. Tanta crueldade. 

E não é que os pardais passaram até a serem sinônimo de “dedo-duro”, “X9”? Foi o que aconteceu quando viraram apelido dos equipamentos que flagram infrações de trânsito. “Cuidado, essa via é cheia de pardais!”

Portanto, não fomos bons anfitriões para eles, que teriam vindo da Europa, trazidos por portugueses. 

Mas sempre é tempo de acertar as contas com o passado, não é mesmo? 

Para maritacas, periquitos, rolinhas e os nossos queridos pardais, a Mata do Jardim América, enfim, será mantida e transformada em parque. Fruto da conquista de uma mobilização popular engajada há 14 anos. 

Sim, um refúgio climático autêntico e natural. Os pardais conhecem há muito tempo!