Foi indescritível a sensação de entrar pela primeira vez na sala de uma universidade. Sentimento de liberdade. Estava prestes a iniciar ali um percurso que me transformaria por completo. Abriria a minha mente, destruiria as certezas erguidas até então. Colocaria outras lentes. Um dos primeiros livros que li, aconselhado por um dos meus professores, foi o “Apocalipse Motorizado”. O título já dava uma prévia do que as páginas me ofertariam: reflexões aprofundadas sobre o quão a vida urbana seguia (e ainda segue) operando de acordo com a lógica dos automóveis.
Durante a leitura, lembro-me do episódio registrado na madrugada do dia 20 de novembro de 1963, quando os famosos fícus da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, foram derrubados em prol de um corredor mais amplo para caber carros. Para caber o chamado “progresso” ou essa tal “modernidade”. As pragas urbanas foram o motivo oficial para a derrubada.
As inúmeras tentativas de suprimir a vida seguiram na capital mineira ao longo dos anos. Rios e demais cursos d’água foram tampados. Derrubar as árvores, esconder a natureza, impermeabilizar o solo. Concretar a vida. Qual e quando será a última pá de cal?
Ao continuar a leitura de “Apocalipse motorizado”, lembrei-me ainda das primeiras aulas no grupo escolar, quando a professora de Geografia dizia: “o mundo depende da Camada de ozônio para seguir tendo vida. Já notaram como o sol está cada vez mais quente?” Na época, confesso, que não consegui medir isso.
E agora?
“Belo Horizonte foi a capital brasileira que mais esquentou no país em 2023, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), do governo federal. A cidade chegou a registrar 4,2ºC acima da média”, de acordo com o portal G1.
Agora, 63 árvores serão derrubadas no entorno do Mineirão, na Pampulha.
(Aliás, esse mesmo estádio viu outras 700 serem suprimidas em troca de uma roupagem mais “moderna”). Mas outras serão replantadas, dizem. Deixando de lado os impactos sobre o microclima local, e o tempo da natureza de reposição.
Mas o evento vai render R$ 200 milhões para a cidade, eles justificam.
Amigo Krenak, eles não querem adiar o fim do mundo. Pelo contrário, querem acelerar e nos impor a 200 quilômetros por hora o apocalipse.